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Autismo: Navegando pelas Evidências Científicas para o Diagnóstico, Tratamento e Exames

Atualizado: 22 de jan.



Autismo: Navegando pelas Evidências Científicas para o Diagnóstico, Tratamento e Exames


O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento que se evidencia nos primeiros anos de vida através de padrões comportamentais que englobam: desafios na interação social e comunicação e a presença de comportamentos repetitivos e interesses limitados.


Quadro 1. Características frequentemente presentes em crianças com TEA

Dificuldades Sociais e de Comunicação

Interesses Restritos e Repetitivos

Dificuldade para estabelecer conversa


Dificuldade para iniciar interação social


Dificuldade em demonstrar emoções


Prefere ficar sozinho


Pouco constato visual


Linguagem corporal pobre


Pouca expressão facial


Não entende linguagem corporal ou facial


Dificuldade para entender ironia ou piadas

Estereotipias motoras


Alinhar objetos


Ecolalia


Sofrimento extremo frente às mudanças


Dificuldade com transições


Padrões rígidos de pensamento


Interesse extremo ou restrito a um assunto


Rituais de saudação


Necessidade de fazer o mesmo caminho


Hipo ou hiperreatividade a estímulos sensoriais


Cheirar ou tocar objetos


Apego incomum a determinado objeto


Recusa de determinados alimentos


A falta de um indicador biológico torna o diagnóstico um desafio para muitos profissionais. A avaliação diagnóstica demanda experiência clínica, habilidade e familiaridade com indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Além disso, o profissional precisa ter expertise em outros transtornos relacionados e na diversidade do desenvolvimento típico de crianças.


Diagnóstico

O diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma jornada complexa e crucial que envolve a análise criteriosa de vários aspectos do comportamento e desenvolvimento de uma pessoa.


Para além das características centrais descritas nos critérios diagnósticos no DSM5-TR, a avaliação deve abrange coocorrências, como agressividade, crises de birra, hiperatividade, desatenção, impulsividade, distúrbios do sono e autolesões. Uma análise abrangente inclui a investigação da história do desenvolvimento neuropsicomotor, antecedentes gestacionais e neonatais, padrões de sono e alimentação, além de buscar possíveis coocorrências e examinar o histórico médico em busca de sinais de deterioração neurológica, crises epilépticas e problemas gastrointestinais. A história familiar também é essencial, documentando a presença de parentes até a terceira geração com TEA, Transtorno do Desenvolvimento Intelectual (TDI), Síndrome do X-frágil, Complexo Esclerose Tuberosa, questões sutis de linguagem, comunicação, aprendizado e outros aspectos relacionados à saúde mental e psiquiatria infantil.


A obtenção de informações abrangentes para diagnosticar o TEA envolve a colaboração ativa com professores, pais e cuidadores, que muitas vezes possuem insights valiosos. Além disso, a utilização de vídeos caseiros pode fornecer ao avaliador uma visão mais detalhada de comportamentos menos frequentes ou já ausentes. No entanto, a interação direta com a criança é essencial, proporcionando a oportunidade para que ela demonstre suas habilidades, capacidades e desafios.


Durante a observação direta ou observacional, é crucial criar um ambiente que permita à criança expressar suas características autênticas. A avaliação deve abranger não apenas aspectos comportamentais, mas também incluir uma análise cognitiva abrangente, avaliação do funcionamento adaptativo e da linguagem. Este método integral proporciona uma visão mais completa das necessidades e potencialidades da criança, informando um diagnóstico mais preciso e orientando estratégias de intervenção personalizadas. O envolvimento de diferentes fontes de informação e métodos de avaliação contribui para um entendimento mais aprofundado do perfil único de cada criança com TEA.


A escalas de triagens/rastreiro de chance de TEA ou características sugestivas do TEA não devem ser utilizadas para estabelecer o diagnóstico de TEA, ou seja, servem apenas para triagem. As escalas de triagem mais comuns utilizadas no Brasil são: Escala Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT-R/F), Checklist de Avaliação do tratamento do TEA (ATEC), Autism Behavior Checklist – ABC ou ICA (Lista de Checagem de Comportamento Autístico), Escala de avaliação de Traços Autísticos (ATA), Escala de Responsabilidade Social, Segunda Edição (SRS-2), Questionário de Comunicação Social (SCQ-A/SCQ-B), Sistema PROTEA-R- NV. de avaliação de suspeita de TEA e outros Transtornos da Comunicação, Communication and Symbolic Behavior Scales (CSBS DP), Infant-Toddler Checklist, Escala de Pontuação para Autismo na Infância – Childhood Autism Spectrum Disorders Test (CAST), Survey of Well-being of Young Children (SWYC-BR), AOSI - Escala de Observação de autismo em bebês, STAT (Screening Tool for Autism in Toddlers and Young Children), Behavioural Observation Scale for Autism de Freeman (BOS), Echelle d`évaluation des Comportements Autistiques (ECA) e RITA-T (Teste rápido interativo de triagem para espectro autista em crianças).


Entre as ferramentas mais confiáveis e abrangentes disponíveis para do diagnóstico de TEA, destacam-se o ADOS-2 (Autism Diagnostic Observation Schedule, 2ª edição), o ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised), Escala LABIRINTO (Escala brasileira de Diagnóstico do Autismo) e o CARS-2 (CARS-2 - Childhood Autism Rating Scale, 2ª edição). Vamos explorar como esses instrumentos, quando usados em conjunto, formam o padrão ouro no diagnóstico do autismo.


1. ADOS-2: Observação Estruturada e Sensível ao Desenvolvimento

O ADOS-2 é uma ferramenta de observação estruturada que coloca o avaliador diretamente na interação com a pessoa em avaliação. Projetado para ser sensível ao desenvolvimento e adaptável a diferentes faixas etárias, o ADOS-2 avalia comportamentos sociais, comunicação verbal e não verbal, além de padrões de interesse e atividades repetitivas. Sua abordagem padronizada permite uma comparação consistente e a identificação de características específicas associadas ao TEA. Pode ser aplicado à partir de 12 meses (1 ano) de idade.


2. ADI-R: Entrevista Detalhada com Enfoque Histórico

Ao complementar o ADOS-2, o ADI-R acrescenta uma dimensão crucial ao processo diagnóstico. Realizada por meio de entrevistas detalhadas com cuidadores, essa ferramenta explora o desenvolvimento histórico da criança, comportamentos sociais, linguagem e interesses específicos. As informações fornecidas pelos cuidadores contribuem para uma visão mais completa do perfil do indivíduo, enriquecendo a análise e a compreensão das características associadas ao autismo. Pode ser aplicada à partir de 18 meses de idade equivalente ou 2 anos de idade cronológica.


3. CARS-2: Uma Avaliação Global e Multidimensional

O CARS-2, por sua vez, é uma avaliação global que oferece uma visão multidimensional do comportamento infantil. Essa ferramenta envolve a observação direta do comportamento e a avaliação de informações fornecidas por cuidadores e profissionais. O CARS-2 se destaca por sua abordagem integral, considerando uma ampla gama de comportamentos associados ao autismo, desde padrões de comunicação até interesses restritos. Pode ser aplicada de 2 a 17 anos.


4. Escala LABIRINTO: Uma contribuição brasileira valiosa no diagnóstico do Autismo

A Escala LABIRINTO é um instrumento que permite identificar grupos mais amplos de comportamentos, ao invés de apenas verificar a gravidade, permitindo, portanto, a pesquisa de coocorrências (por exemplo, epilepsia, hiperatividade, compulsividade, restrição a mudanças) e tornando mais específico o encaminhamento terapêutico após o diagnóstico. A intenção é identificar as esferas comportamentais que precisam de tratamento e aquelas que estão mais preservadas. A avaliação identifica comportamentos que possam indicar possíveis coocorrências.


5. Complementaridade e Confirmação

Ao utilizar o ADOS-2, ADI-R, Escala LABIRINTO e CARS-2 em conjunto, os profissionais de saúde obtêm uma visão mais rica e abrangente do quadro comportamental de um indivíduo. A complementaridade entre essas ferramentas permite confirmar e reforçar as conclusões do diagnóstico, proporcionando maior confiabilidade aos resultados.


6. Importância da Avaliação Profissional

É fundamental ressaltar que a administração e interpretação desses instrumentos demandam habilidades e treinamento especializado. Profissionais de saúde (médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros) precisam ser capacitados para aplicar o ADOS-2 e o ADI-R, garantindo que os resultados sejam precisos e confiáveis. Essa capacitação é a Acreditação Clínica e Certificação Internacional nos Instrumentos ADOS-2 e ADIR. A CARS-2 pode ser aplicada por profissionais de saúde e educação com expertise no instrumento. A Escala LABIRINTO pode ser aplicada por profissionais de saúde e educação com Certificado de Aplicação da Escala LABIRINTO pela Universidade Bahiana.


7.Conclusão:

O uso combinado dos instrumentos ADOS-2, ADI-R, Escala LABIRINTO e CARS-2 estabelece o padrão ouro no diagnóstico do autismo. Essas ferramentas, quando aplicadas por profissionais qualificados, oferecem uma base sólida para compreender as nuances do TEA, permitindo intervenções personalizadas e proporcionando suporte adequado para o desenvolvimento e bem-estar das pessoas no espectro do autismo. Ao adotarmos uma abordagem abrangente e integrada, estamos capacitando as comunidades a agirem com empatia e eficácia na promoção da inclusão e no suporte às necessidades únicas de cada indivíduo no espectro do autismo.


Investigação

Realizar um exame físico é vital para detectar a presença de condições como neurofibromatose e complexo esclerose tuberosa, além de identificar características faciais distintivas. Além disso, a avaliação abrange áreas cruciais como audição, fala e linguagem, incorporando uma análise neurológica abrangente. Este processo é especialmente significativo em casos específicos, onde a avaliação genética se torna essencial.


O exame físico proporciona uma visão detalhada da saúde geral da criança, permitindo a identificação precoce de sinais indicativos de condições neurológicas e genéticas. Ao focar não apenas nos aspectos físicos, mas também nas habilidades auditivas e linguísticas, os profissionais de saúde podem obter uma compreensão integral das necessidades da criança. Em situações específicas, a avaliação genética contribui para um diagnóstico mais preciso e orienta estratégias de tratamento personalizadas. Em suma, a abordagem abrangente dessas avaliações visa fornecer uma base sólida para um plano de cuidados preciso e adequado às características individuais do paciente.


Não há exames complementares ou marcadores biológicos para o diagnóstico de TEA, mas podem ser úteis para definir a etiologia do TEA. A tabela seguinte apresenta os momentos apropriados para recomendar cada exame.


Tabela 1. Padronização para investigação da criança com TEA.

Tipo de Exame

Quando Fazer

Potencial Evocado Auditivo (BERA) ou Audiometria Condicionada

Todos os pacientes.

Ressonância Nuclear Magnética de Encéfalo 1,5 tesla ou mais com e sem gadolíneo e com espectroscopia

Alteração focal do exame neurológico.

Macrocefalia discreta não justifica a realização do exame.

VideoEletrencefalograma 12h noturno

Crianças com sinais sugestivas de crises epilépticas. Perdas de habilidades adquiridas, comportamentos interferentes e dificuldade de aumento de repertório de habilidades são sinais sugestivos de crises epilépticas.

Teste de expansão para Síndrome do X Frágil (GENE FMR1)

Todos os meninos, mesmo na ausência de fenótipo típico.

Sequenciamento de Nova Geração  de toda região codificante do gene MECP2

Meninas com fenótipo característico ou sugestivo de Sìndrome de Rett

Array (SNP-array de alta densidade)

Todos os casos

Sequenciamento Completo do Exoma (SCE)  

Em situações familiares que apresentem associação com Transtornos do Desenvolvimento Intelectual (TDI), epilepsia, dismorfias ou consanguinidade parental, é aconselhável considerar esses fatores. Mesmo na ausência dessas alterações, a recomendação para o sequenciamento completo do exoma surge quando os resultados do microarranjo genômico (CGH-Array, SNP-Array) demonstram normalidade. Atualmente, alguns laboratórios estão iniciando a inclusão do microarranjo genômico no exame de sequenciamento completo do exoma, mas essa prática ainda não está universalmente estabelecida em todos os centros.

Exames de Erros inatos do Metabolismo (EIM): dosagem quantitativa de biotinidase no sangue, quantificação de aminoácidos no sangue  (dosagem quantitativa de aminoácidos no sangue), perfil quantitativo de  ácidos orgânicos  na urina, dosagem de carnitina livre no sangue, dosagem de carnitina total e frações no sangue

Não devem ser pedidos de rotina, apenas se houver sinais ou sintomas sugestivos de doença neurometabólica. Perdas de habilidades adquiridas, comportamentos interferentes e dificuldade de aumento de repertório de habilidades são sinais sugestivos de EIM.

No Brasil, a exigência de realizar o cariótipo antes de exames mais avançados, como o Microarray Cromossômico, é uma peculiaridade dos convênios médicos e seguradoras de saúde, não seguida nos países desenvolvidos.


Em casos específicos e com sinais e sintomas sugestivos de coocorrências orgânicas, exames complementares para investigar fatores nutricionais, imunológicos, alérgicos, neurológicos, genéticos, inflamatórios, infecciosos, gastrointestinais podem ser necessários. Não podemos esquecer que perdas de habilidades adquiridas, problemas de sono, problemas alimentares, comportamentos interferentes e dificuldades de ganho de repertórios de habilidades são sinais sugestivos de coocorrências orgânicas.


É essencial ressaltar que o diagnóstico do TEA é clínico e que esses exames complementares são parte de uma abordagem abrangente, auxiliando na personalização do tratamento e apoio a crianças autistas. Cada resultado contribui para um mosaico mais completo, permitindo uma compreensão mais profunda e individualizada do autismo.


Tratamento

Entre 2012 a 2017, o National Standard Project - National Autism Center fez uma revisão sistemática de 61.147 artigos/estudos sobre intervenções em TEA, para avaliar e identificar práticas baseadas em evidências no tratamento do TEA, resultando em um total de 972 artigos aceitáveis (“Práticas Baseadas em Evidências para Crianças, Adolescentes, e Jovens com Transtorno do Espectro do Autismo”, 2020). A partir desses estudos foram encontradas 28 intervenções com evidências científicas estabelecidas para o tratamento do TEA Dessas 28 intervenções, 23 são baseadas em Análise do Comportamento aplicada – ABA e as outras 5 intervenções são: Intervenção baseada nos princípios da Integração Sensorial de Ayres; Intervenção Mediada por Música (MMI); Intervenção Baseada em Exercício e Movimento (EXM); Instrução e Intervenção Assistida por Tecnologia (TAII); e Terapia Cognitivo Comportamental/Estratégias de Instrução (para pessoas com TEA maiores de 6 anos e nível 1 de suporte).


Analise do Comportamento Aplicada

Na terapia ABA poderá ser aplicada: 1. Intervenções baseadas no antecedente; 2. Comunicação Alternativa e Aumentativa; 3. Intervenção Momentum Comportamental; 4. Reforçamento Diferencial de Alternativo, Incompatível ou Outros Comportamentos; 5. Instrução Direta; 6. Ensino por Tentativas Discretas (DTT);  7. Extinção (EXT); 8. Avaliação Funcional do Comportamento; 9. Treino de Comunicação Funcional (FCT); 10. Modelação;  11. Intervenção Naturalística (Método Denver ou outras);  12. Intervenção Implementada por Pais; 13. Instrução e Intervenção Mediadas por Pares (PBII); 14. Dicas (Prompting); 15. Reforçamento;  16. Interrupção e Redirecionamento da Resposta (RIR); 17. Autogerenciamento (SM); 18. Narrativas Sociais (SN); 19. Treino de Habilidades Sociais; 20. Análise de Tarefas (TA); 21. Atraso de tempo (TD); 22. Videomodelação (VM);  e 23. Suportes Visuais (VS).


A quantidade de tratamento, frequentemente chamada de "intensidade" na literatura especializada, varia individualmente e deve ser adaptada aos objetivos específicos, necessidades e resposta de cada criança ao tratamento.


Quanto à intensidade, ela é geralmente avaliada pelo número de horas semanais de tratamento direto. Na abordagem ABA Focada, a intensidade varia de 10 a 25 horas por semana, incluindo supervisão direta, supervisão indireta e treinamento para cuidadores. Em casos de comportamento destrutivo severo, pode ser necessário ultrapassar 25 horas semanais, como em programas diurnos ou de internação para comportamentos autolesivos graves.


No tratamento ABA Abrangente, a intensidade é geralmente de 30 a 40 horas de tratamento direto 1:1 (1 terapeuta : 1 criança) por semana para a criança, excluindo treinamento de cuidadores, supervisão e outros serviços necessários. Crianças mais jovens podem começar com menos horas diárias, aumentando gradualmente conforme sua capacidade de tolerância e participação. Ajustes na quantidade de horas são feitos com base na resposta da criança e nas necessidades atuais. O aumento pode ocorrer para atingir os objetivos do tratamento de maneira mais eficiente, enquanto a diminuição ocorre quando a criança atinge a maioria dos objetivos e se encaminha para alta.


Embora o número de horas de terapia recomendado possa parecer elevado, essa recomendação é respaldada por pesquisas que indicam a intensidade necessária para alcançar resultados positivos. É crucial observar que períodos prolongados sem terapia podem resultar em um afastamento ainda maior do desenvolvimento típico, levando a atrasos que provavelmente acarretarão custos adicionais e uma maior dependência de serviços mais intensivos ao longo da vida.


Quanto à duração do tratamento, é efetivamente gerenciada avaliando a resposta da criança ao tratamento. Entretanto, geralmente, em 2 a 3 anos, em prestadores de serviço ABA de qualidade, já ocorre redução da carga horária da criança, devido aos ganhos de habilidades e redução de comportamentos interferentes. A intervenção precoce e intensiva é outro fator a ser considerado no tempo de duração de tratamento. No Brasil, devido a dificuldade de acesso a serviços de qualidade de intervenção ABA e intervenção precoce, o tempo de tratamento é indeterminado, e, consequentemente, o custo final é bem maior.


Intervenção baseada nos princípios da Integração Sensorial de Ayres

No vasto espectro do tratamento do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), abordagens diversas buscam proporcionar suporte eficaz e aprimorar a qualidade de vida das pessoas afetadas. Uma dessas abordagens, que tem ganhado destaque, é a Intervenção baseada nos princípios da Integração Sensorial de Ayres (IS). Desenvolvida pela terapeuta ocupacional e psicóloga Jean Ayres na década de 1960, a IS concentra-se na compreensão e na resposta a estímulos sensoriais, sendo particularmente relevante para indivíduos com TEA, que frequentemente enfrentam desafios na integração sensorial.


A IS fundamenta-se na ideia de que o cérebro possui a capacidade intrínseca de organizar as informações sensoriais provenientes do corpo e do ambiente. Em indivíduos com TEA, essa capacidade pode estar comprometida, resultando em dificuldades em processar e responder adequadamente a estímulos sensoriais cotidianos. Tais desafios sensoriais podem se manifestar em hipersensibilidade (sensibilidade excessiva) ou hipossensibilidade (sensibilidade diminuída) a estímulos como luz, som, texturas e movimentos.


A intervenção baseada nos princípios da IS visa, portanto, criar experiências controladas e gradativas para ajudar o indivíduo a processar e integrar essas informações sensoriais de maneira mais eficiente. Isso é alcançado por meio de atividades estruturadas e orientadas, que visam aprimorar a modulação sensorial, a coordenação motora e a resposta adaptativa a estímulos.


As atividades propostas na IS são projetadas para atender às necessidades sensoriais específicas de cada indivíduo. Por exemplo, para uma criança com hipersensibilidade tátil, atividades que envolvem toque e texturas podem ser introduzidas de forma gradual e controlada, permitindo que ela desenvolva uma resposta mais adaptativa a esses estímulos. Da mesma forma, para uma criança com hipossensibilidade vestibular (relacionada ao equilíbrio e movimento), atividades que estimulam o sistema vestibular são incorporadas de maneira cuidadosa.


A IS no contexto do TEA não apenas visa melhorar a integração sensorial, mas também busca impactar positivamente outros aspectos do desenvolvimento, como habilidades motoras finas e grossas, equilíbrio, coordenação e autocontrole emocional. Estudos e relatos clínicos têm destacado benefícios potenciais da IS em áreas como a regulação do comportamento, a participação em atividades cotidianas e o fortalecimento das habilidades sociais.


É crucial ressaltar que a IS não é uma abordagem única e padronizada. Cada intervenção é adaptada às necessidades específicas de cada indivíduo, levando em consideração seu perfil sensorial único e seus objetivos terapêuticos. Além disso, a IS frequentemente envolve a colaboração entre terapeutas ocupacionais, pais, cuidadores e outros profissionais de saúde, criando uma abordagem holística e integrada ao tratamento do TEA.


A IS é frequentemente integrada a abordagens terapêuticas mais amplas, como a ABA (Análise do Comportamento Aplicada) e Psicomotricidade, para proporcionar uma abordagem abrangente e adaptada às necessidades específicas de cada indivíduo com TEA.


Em suma, a Intervenção baseada nos princípios da Integração Sensorial de Ayres oferece uma perspectiva inovadora no tratamento do TEA, focando na melhoria da integração sensorial e no desenvolvimento global do indivíduo. Seu caráter personalizado e integrado destaca-se como uma peça valiosa no arco-íris do tratamento do autismo, oferecendo uma abordagem centrada na singularidade de cada pessoa e proporcionando oportunidades para o aprimoramento do funcionamento sensorial e emocional.


Intervenção Mediada por Música: Harmonizando Caminhos no Tratamento do Autismo

No vasto espectro das terapias para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), uma abordagem que tem conquistado reconhecimento é a Intervenção Mediada por Música (IMM). A música, com sua linguagem universal, demonstra ser uma ferramenta poderosa na promoção do desenvolvimento e bem-estar de indivíduos com TEA. A Musicoterapia, fundamentada na utilização estruturada e intencional da música, busca potencializar habilidades cognitivas, emocionais e sociais, proporcionando um caminho singular de expressão e conexão.


A música, sendo uma forma de comunicação não verbal, transcende barreiras linguísticas e oferece uma plataforma rica para a expressão emocional. Para indivíduos no espectro do autismo, que frequentemente enfrentam desafios na comunicação verbal e não verbal, a música pode ser uma ponte para a expressão e compreensão de emoções. A Musicoterapia reconhece e capitaliza essa capacidade intrínseca da música de comunicar e evocar respostas emocionais, criando oportunidades para aprimorar a expressão e a regulação emocional.


A abordagem da Musicoterapia no tratamento do TEA é diversificada, adaptando-se às necessidades e preferências individuais. A terapia pode envolver atividades como improvisação musical, canto, composição, movimento rítmico e percussão. O terapeuta de música, treinado na Musicoterapia, desenha estratégias que visam estimular o desenvolvimento de habilidades específicas, como a coordenação motora, a atenção, a interação social e a expressão verbal e não verbal.


Um dos aspectos distintivos da Musicoterapia é a incorporação de elementos musicais de acordo com as preferências e respostas do indivíduo. Isso não apenas promove a participação ativa, mas também cria um ambiente terapêutico personalizado e engajador. Por exemplo, se um indivíduo demonstra interesse por um instrumento específico ou por um gênero musical particular, o terapeuta adapta as atividades para incluir esses elementos, maximizando a motivação e a resposta positiva.


Além dos benefícios emocionais e de comunicação, a Musicoterapia no contexto do TEA também demonstra impactos positivos na melhoria das habilidades sociais e interação. Durante as sessões de música em grupo, os participantes têm a oportunidade de compartilhar experiências musicais, criar harmonias coletivas e desenvolver habilidades de troca de turno, tão essenciais para as interações sociais.


Estudos e relatos clínicos têm destacado resultados promissores da Musicoterapia no tratamento do TEA. A música, ao proporcionar uma estrutura previsível e agradável, pode auxiliar na redução da ansiedade e na promoção do engajamento. Ademais, a Musicoterapia tem mostrado eficácia na melhoria da comunicação não verbal, na ampliação do repertório de habilidades sociais e na promoção da expressão criativa.


Apesar dos benefícios evidentes, é importante reconhecer que a Musicoterapia não é uma panaceia. Cada indivíduo com TEA é único, e a resposta à música pode variar significativamente. Além disso, a Musicoterapia frequentemente se integra a abordagens terapêuticas mais amplas, como a ABA (Análise do Comportamento Aplicada) e terapias ocupacionais com integração sensorial de Ayres, para oferecer uma abordagem abrangente e integrada ao tratamento do autismo.


Em resumo, a Intervenção Mediada por Música emerge como uma sinfonia terapêutica, harmonizando o desenvolvimento e a expressão para aqueles no espectro do autismo. A música, como linguagem universal, transcende barreiras, proporcionando uma via única para a comunicação, expressão emocional e interação social. A Musicoterapia, ao reconhecer e capitalizar esses potenciais, oferece um compasso valioso no tratamento do TEA, enriquecendo vidas por meio da melodia terapêutica.


Intervenção Baseada em Exercício e Movimento (EXM): Desbravando Caminhos de Desenvolvimento

No cenário multifacetado do tratamento do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), abordagens inovadoras têm ganhado destaque, buscando promover o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional de indivíduos afetados. A Intervenção Baseada em Exercício e Movimento (EXM) emerge como uma dessas estratégias, reconhecendo o potencial transformador que atividades físicas estruturadas e adaptadas podem ter na vida das pessoas com TEA.


A EXM no contexto do TEA fundamenta-se na compreensão de que a prática regular de atividades físicas pode não apenas aprimorar a saúde física, mas também desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de habilidades motoras, na regulação emocional e na promoção da interação social. Para indivíduos com TEA, que muitas vezes enfrentam desafios nas áreas de coordenação motora e interação social, a EXM se apresenta como uma abordagem promissora.


As atividades propostas na EXM são projetadas para atender às necessidades específicas de cada indivíduo, considerando suas preferências, habilidades motoras e objetivos terapêuticos. A variedade de exercícios pode incluir desde práticas mais estruturadas, como exercícios aeróbicos e de resistência, até atividades mais lúdicas, como jogos e brincadeiras que envolvem movimento.


Um dos pilares da EXM no tratamento do TEA é o foco na coordenação motora. Muitas crianças e adultos no espectro podem apresentar dificuldades nessa área, afetando a realização de tarefas cotidianas e a participação em atividades sociais. A EXM, ao incorporar exercícios específicos para aprimorar a coordenação motora, visa superar essas barreiras e promover uma maior autonomia nas atividades diárias.


Além disso, a EXM desempenha um papel fundamental na regulação emocional. A prática regular de atividades físicas tem sido associada à liberação de neurotransmissores, como endorfinas, que contribuem para a melhoria do humor e a redução do estresse e da ansiedade. Para indivíduos com TEA, que podem enfrentar desafios na regulação emocional, a EXM oferece uma via natural para promover o equilíbrio emocional.


A EXM também se revela como uma ferramenta valiosa para fomentar a interação social. Muitas atividades propostas na EXM são realizadas em grupo, proporcionando oportunidades para compartilhar experiências, desenvolver habilidades de cooperação e estabelecer conexões sociais. Essa abordagem não apenas fortalece a integração social, mas também cria um ambiente de apoio e compreensão mútua entre os participantes.


Estudos e relatos clínicos têm destacado os benefícios da EXM no tratamento do TEA. Melhorias nas habilidades motoras, aumento da participação em atividades sociais, regulação emocional aprimorada e ganhos na qualidade de vida são alguns dos resultados observados. Importante ressaltar que a EXM muitas vezes se integra a abordagens terapêuticas mais abrangentes, como a ABA (Análise do Comportamento Aplicada) e terapias ocupacionais com integração sensorial de Ayres, para proporcionar uma abordagem completa e personalizada.


No entanto, é essencial considerar as necessidades individuais de cada pessoa com TEA ao implementar a EXM. Adaptar os exercícios conforme as preferências, limitações e objetivos terapêuticos específicos é crucial para maximizar os benefícios. Além disso, a supervisão de profissionais qualificados, como fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, é fundamental para garantir a segurança e eficácia da intervenção.


Em síntese, a Intervenção Baseada em Exercício e Movimento surge como uma via dinâmica e inclusiva no tratamento do TEA, desbravando caminhos que promovem o desenvolvimento integral de indivíduos no espectro do autismo. Ao reconhecer o potencial terapêutico da atividade física adaptada, a EXM se destaca como uma estratégia que transcende os limites do corpo, promovendo saúde, bem-estar e crescimento nas múltiplas dimensões da vida de quem enfrenta o desafio do autismo.


Instrução e Intervenção Assistida por Tecnologia (TAII): Tecnologia como Aliada no Desenvolvimento do Autismo

No panorama em constante evolução das abordagens terapêuticas para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), a Instrução e Intervenção Assistida por Tecnologia (TAII) destaca-se como uma ferramenta inovadora e eficaz para promover o desenvolvimento cognitivo e social de indivíduos no espectro autista. Utilizando recursos tecnológicos de maneira estruturada e adaptativa, a TAII emerge como uma aliada valiosa, oferecendo oportunidades únicas para aprimorar habilidades e facilitar a participação ativa na sociedade.


A TAII abrange uma variedade de estratégias que incorporam tecnologias, como tablets, aplicativos específicos, softwares educacionais e dispositivos interativos, no processo de ensino e intervenção. O objetivo é personalizar a abordagem terapêutica de acordo com as necessidades individuais de cada pessoa com TEA, oferecendo suporte e estimulando o desenvolvimento em diversas áreas.


Um dos aspectos fundamentais da TAII é a capacidade de adaptar o conteúdo educacional de forma personalizada. Para indivíduos com TEA, que muitas vezes apresentam estilos de aprendizagem únicos e preferências individuais, a TAII oferece a flexibilidade necessária para ajustar o ritmo, o formato e o conteúdo do ensino. Isso não apenas aumenta a motivação do aprendiz, mas também maximiza a eficácia do processo educacional.


Além disso, a TAII se destaca por proporcionar um ambiente de aprendizado visualmente estruturado. Muitas pessoas com TEA respondem positivamente a estímulos visuais e organização visual, e a tecnologia permite a criação de ambientes virtuais que são visualmente claros e compreensíveis. Essa abordagem estruturada contribui para a redução da ansiedade e facilita a compreensão de conceitos, promovendo a assimilação e aplicação do conhecimento.


A TAII também desempenha um papel crucial na promoção da comunicação. Para aqueles com TEA que enfrentam desafios na expressão verbal ou não verbal, a tecnologia oferece ferramentas que facilitam a comunicação. Aplicativos de comunicação alternativa, como os sistemas de comunicação aumentativa e alternativa (CAA), podem ser incorporados na TAII para proporcionar métodos eficazes de expressão, permitindo que os indivíduos se comuniquem de maneira mais autônoma e eficiente.


Outro aspecto relevante da TAII é a oportunidade de desenvolver habilidades sociais e interativas. Muitas plataformas tecnológicas oferecem jogos e atividades interativas que visam aprimorar a compreensão de pistas sociais, a reciprocidade e a participação em interações sociais. Essas atividades, quando integradas à TAII de maneira apropriada, podem se tornar ferramentas valiosas para melhorar a capacidade de interação social e promover o engajamento em contextos sociais diversos.


Estudos e pesquisas têm evidenciado os benefícios da TAII no tratamento do TEA. A tecnologia, quando utilizada de forma estruturada e supervisionada, tem demonstrado impactos positivos no desenvolvimento acadêmico, nas habilidades de comunicação, na autonomia e na qualidade de vida de indivíduos no espectro autista. No entanto, é crucial ressaltar que a implementação da TAII deve ser personalizada, considerando as características individuais de cada pessoa com TEA e garantindo uma abordagem ética e responsável no uso da tecnologia.


Em resumo, a Instrução e Intervenção Assistida por Tecnologia emerge como uma abordagem inovadora e promissora no tratamento do TEA. Ao integrar de forma inteligente recursos tecnológicos adaptados às necessidades individuais, a TAII oferece oportunidades significativas para aprimorar habilidades cognitivas, sociais e comunicativas, capacitando indivíduos no espectro do autismo a explorar seu potencial e participar plenamente na sociedade.


Terapia Cognitivo-Comportamental e Estratégias de Instrução: Abordagem Específica para Indivíduos com TEA Maiores de 6 Anos e Nível 1 de Suporte

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) associada a Estratégias de Instrução emerge como uma abordagem eficaz e específica para indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) que se encontram na faixa etária superior a 6 anos e possuem um nível de suporte classificado como Nível 1. Essa abordagem integrada visa fornecer suporte personalizado, atendendo às necessidades particulares desses indivíduos, promovendo o desenvolvimento cognitivo, comportamental e adaptativo.


A TCC é uma modalidade terapêutica amplamente reconhecida que se baseia na compreensão e modificação de padrões de pensamento disfuncionais e comportamentos desafiadores. Quando aplicada a indivíduos com TEA, a TCC busca trabalhar na melhoria das habilidades sociais, comunicação, regulação emocional e na redução de comportamentos repetitivos e restritos. A abordagem cognitivo-comportamental pode ser especialmente benéfica para aqueles classificados no Nível 1 de suporte, caracterizado por dificuldades sociais notáveis, mas sem comprometimento significativo da funcionalidade.


A primeira vertente da TCC na intervenção para TEA envolve a identificação e modificação de padrões cognitivos disfuncionais. Para indivíduos com TEA, que muitas vezes enfrentam desafios na compreensão de nuances sociais e na interpretação de sinais emocionais, a TCC oferece estratégias específicas para melhorar a cognição social. Isso pode incluir a exploração de pensamentos automáticos negativos, a promoção da empatia e o desenvolvimento de habilidades de teoria da mente, permitindo uma melhor compreensão das perspectivas e emoções dos outros.


A segunda vertente da TCC concentra-se na modificação de comportamentos desafiadores. Estratégias comportamentais são desenvolvidas para enfrentar desafios específicos, como explosões emocionais, estereotipias ou resistência a mudanças. A TCC busca identificar antecedentes, padrões de comportamento e consequências, implementando estratégias para promover respostas mais adaptativas e funcionais. Isso é essencial para melhorar a qualidade de vida do indivíduo e sua interação com o ambiente.


A integração de Estratégias de Instrução na abordagem terapêutica para TEA adiciona uma dimensão educacional ao processo. Considerando a faixa etária acima de 6 anos, a aprendizagem torna-se uma parte central do desenvolvimento. Estratégias de Instrução adaptadas às características individuais do TEA são incorporadas para promover habilidades acadêmicas, funcionais e adaptativas.


As Estratégias de Instrução abrangem uma variedade de técnicas, incluindo o uso de apoios visuais, organização estruturada do ambiente, adaptações curriculares e a promoção da autonomia. Para indivíduos no Nível 1 de suporte, a adaptação do ambiente educacional é crucial para proporcionar um contexto favorável ao desenvolvimento cognitivo e comportamental. Isso pode envolver a criação de rotinas previsíveis, o uso de horários visuais e a individualização do currículo para atender às necessidades específicas.


A combinação da TCC com Estratégias de Instrução visa proporcionar uma abordagem integral, considerando tanto os aspectos emocionais quanto educacionais. A TCC trabalha na promoção de habilidades cognitivas e comportamentais, enquanto as Estratégias de Instrução fornecem ferramentas práticas para a aplicação dessas habilidades no cotidiano.


Estudos têm destacado os benefícios dessa abordagem integrada para indivíduos com TEA. A melhoria na comunicação, redução de comportamentos desafiadores, aumento da autonomia e avanços acadêmicos são alguns dos resultados observados. A individualização da intervenção, adaptando as estratégias conforme as características específicas de cada pessoa, é essencial para o sucesso dessa abordagem.


Medicamentos

O tratamento do TEA é multifacetado, e em alguns casos, o uso de medicamentos se torna uma ferramenta necessária para gerenciar coocorrências específicas associadas a esse transtorno. É crucial ressaltar que a decisão de iniciar qualquer tratamento medicamentoso deve ser cuidadosamente avaliada por profissionais de saúde especializados, levando em consideração o perfil único de cada criança.


Entre os comportamentos interferentes do TEA que podem levar à consideração do uso de medicamentos estão a agressividade e a agitação. A risperidona é uma opção frequentemente considerada para crianças com mais de 5 anos. Este medicamento antipsicótico pode ajudar a controlar comportamentos agressivos e explosivos, proporcionando estabilidade emocional. Outra alternativa é o aripiprazol, que pode ser considerado para crianças com mais de seis anos. Assim como a risperidona, o aripiprazol é um antipsicótico atípico utilizado para gerenciar comportamentos interferentes associados ao TEA, incluindo irritabilidade.


No caso de problemas para iniciar o sono, temos a melatonina.


Quando o TEA está associado ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), alguns medicamentos podem ser necessários, tais como clonidina, atomoxetina e psicoestimulantes. Importante ressaltar que os psicoestimulantes (metilfenidato e Dimesilato de Lisdexanfetamina) são contraindicados nos casos de crianças nível 2 e 3 de suporte e devem ser utilizados com cautela nas nível 1 de suporte, pois podem piorar agressividade, irritabilidade, comportamento auto e heteroagressivos, problemas de sono, problemas alimentares e outros. A Clonidina está indicada para maiores de 5 anos e a Atomoxetina para maiores de 6 anos de idade.


É importante destacar que a prescrição e o acompanhamento desses medicamentos devem ser conduzidos por profissionais de saúde especializados em neurodesenvolvimento, como psiquiatras da infância e adolescência, pediatria do desenvolvimento e comportamento e neurologistas pediátricos com expertise em TEA. Cada caso é único, e a escolha do medicamento, sua dosagem e a duração do tratamento devem ser personalizadas de acordo com as necessidades específicas de cada criança.


Além disso, é fundamental adotar uma abordagem integrativa no tratamento do TEA, combinando intervenções medicamentosas com terapias com evidências cientificas, gestão de sono, estratégias educacionais, gestão de tempo de exposição a telas/tecnologia e suporte e orientação de pais e cuidadores. A colaboração entre pais, cuidadores e uma equipe transdisciplinar de profissionais de saúde é essencial para garantir uma gestão abrangente e eficaz do TEA.


É crucial lembrar que o uso de medicamentos não é a única estratégia de intervenção e que seu objetivo é melhorar a qualidade de vida da criança, proporcionando maior bem-estar e funcionalidade em seu ambiente. A busca por alternativas terapêuticas e o acompanhamento regular são essenciais para ajustar o plano de tratamento conforme as necessidades evoluem ao longo do tempo.


Terapias que não tem evidências científicas

As intervenções terapêuticas comumente empregadas em nosso contexto, mas que carecem de evidências científicas estabelecidas, especificamente para o Transtorno do Espectro Autista (TEA), incluem:

  • Equoterapia.

  • Estimulação neurosensorial.

  • Ozonioterapia.

  • Oxitocina.

  • Quelantes de metais pesados.

  • Corticoesteróides.

  • Imunoglobulina.

  • Células-tronco.

  • Óleos essenciais.

  • Son-rise.

  • Padovan.

  • Psicanálise.

  • Floortime.

  • MMS ( solução mineral milagrosa, numa tradução livre do inglês).

  • Terapia ABA de baixa intensidade (menos de 10 horas por semana).

  • Terapia eclética.


O advento das mídias sociais transformou a disseminação de informações, proporcionando acesso rápido a uma variedade de conteúdos. Contudo, essa facilidade também deu origem a um fenômeno preocupante: a adoção indiscriminada de terapias alternativas não comprovadas por muitos famílias de crianças com TEA.


A maioria das postagens online sobre terapias alternativas para TEA é feita com boas intenções. No entanto, a veracidade dessas informações nem sempre é garantida, e essa falta de precisão pode resultar em consequências potencialmente perigosas. A prescrição e adoção de tratamentos não respaldados por evidências científicas sólidas podem acarretar prejuízos significativos, não apenas do ponto de vista econômico. Muitas vezes, ao optar por terapias alternativas, as famílias podem abandonar tratamentos convencionalmente comprovados.


Além dos riscos de efeitos colaterais adversos, os gastos financeiros desnecessários também são uma preocupação. Assim, é essencial que as orientações oferecidas às famílias com filhos diagnosticados com TEA incluam uma análise crítica dos riscos e benefícios associados às terapias alternativas.


Outro ponto crucial é desmistificar a falsa relação entre vacinas e TEA. É importante esclarecer que não há evidências científicas que comprovem qualquer conexão entre a administração de vacinas e o desenvolvimento do TEA. Pelo contrário, é fundamental ressaltar que as vacinas são cruciais para a saúde geral, e as crianças com TEA devem receber todas as vacinas recomendadas para a sua faixa etária.


Enquanto as mídias sociais oferecem um vasto campo de informações, é imperativo que as famílias e cuidadores estejam cientes dos riscos associados à adoção de terapias não comprovadas. A orientação correta, baseada em evidências científicas sólidas, é essencial para garantir o bem-estar e o desenvolvimento saudável das pessoas com TEA, evitando prejuízos desnecessários e promovendo a conscientização sobre a importância das práticas baseadas em evidências.


Considerações Finais

As considerações finais sobre a padronização para o diagnóstico, investigação e tratamento do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) em crianças destacam a importância de abordagens sistemáticas e personalizadas para atender às necessidades específicas de cada indivíduo A busca pela padronização visa proporcionar diretrizes claras e eficazes, promovendo intervenções mais eficientes e equitativas.


No âmbito do diagnóstico, é crucial reconhecer a complexidade do TEA e a necessidade de ferramentas de avaliação sensíveis e abrangentes. Profissionais de saúde, educadores e familiares desempenham papéis fundamentais na identificação precoce e na condução de avaliações detalhadas. A abordagem transdisciplinar, envolvendo diferentes especialidades, contribui para uma compreensão mais completa das características individuais e das necessidades específicas de cada criança.


A investigação do TEA deve ir além da observação clínica, considerando fatores nutricionais, imunológicos, alérgicos, neurológicos, genéticos, inflamatórios, infecciosos, gastrointestinais, sociais e emocionais que impactam sua saúde. A coleta de informações sobre o desenvolvimento neuropsicomotor, antecedentes gestacionais, comportamentos do sono e alimentar, entre outros, fornece uma base abrangente para uma avaliação mais precisa.


No que diz respeito ao tratamento, a personalização é fundamental. A intensidade e a duração das intervenções devem ser adaptadas às necessidades individuais de cada criança. Terapias com eficácia comprovada, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), desempenham um papel central, enquanto a inclusão de terapias complementares, quando apropriado, pode enriquecer o processo de intervenção.


As considerações finais também abordam a importância de orientar as famílias sobre tratamentos alternativos sem comprovação científica. Em um mundo digital, onde informações circulam rapidamente, é essencial capacitar os cuidadores a discernir entre abordagens baseadas em evidências e aquelas que carecem de respaldo científico. A conscientização sobre a falta de correlação entre vacinas e TEA também é enfatizada, destacando a importância da imunização para a saúde global das crianças.


Concluindo, a busca pela padronização no diagnóstico, investigação e tratamento do TEA visa garantir que cada criança receba o suporte necessário para desenvolver todo o seu potencial. O caminho para alcançar esse objetivo requer cooperação entre profissionais de diversas áreas, ações educativas voltadas para familiares e cuidadores, e um compromisso contínuo com a pesquisa e a inovação. Ao adotar abordagens padronizadas e personalizadas simultaneamente, é possível criar um ambiente mais inclusivo e eficaz para aquelas crianças no espectro do autismo.



Dra. Valéria Gandolfi Geraldo

Pediatria - Neurologia Pediátrica

CRM-SP: 105.691 / RQE: 26.501-1


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