O Verdadeiro Significado do Nível 1 de Suporte no Autismo: Uma Jornada sem Nível Zero
Para aqueles Autistas com diagnóstico tardio, ou mesmo para aqueles que sempre foram classificados como nível 1 de suporteo é crucial esclarecer que, mesmo nesse ponto do espectro, não existe um nível zero de suporte. Além das características comuns a todos os autistas, precisam de apoio, ajuda e uma sólida rede de suporte.
Enfrentam desafios ao tentar aderir às normas sociais, manifestam comportamentos inflexíveis e vivenciam estresse diante das mudanças. Nas conversas, suas respostas podem ser atípicas, desconectadas do tópico ou até mesmo interrompendo o interlocutor. Lidam com um interesse limitado em interações sociais, dificuldade em iniciar contatos e uma ampla gama de sensibilidades aos estímulos do ambiente, incluindo crises.
Essas dificuldades, entre tantas outras, os tornam notavelmente diferentes das pessoas neurotípicas. No entanto, se são inteligentes, falam, saem sozinhos, trabalham, estudam e tem relacionamentos sociais e amorosos, muitas vezes a percepção externa é de que não precisam de suporte algum.
A diferença fundamental entre zero suporte e algum suporte é que nunca experimentaram a vida da mesma forma que uma pessoa neurotípica. Tudo o que conseguem realizar dentro do padrão social demanda um esforço significativamente maior, frequentemente gerando cansaço e possíveis condições coexistentes.
Em alguns dias, podem ter a energia necessária para cumprir tarefas diárias, estudar, trabalhar e até mesmo socializar. No entanto, a reserva deles dessas habilidades é limitada, e uma hora acaba. Haverá momentos em que não conseguirão dar conta da rotina e das obrigações, e é nesses momentos que o suporte se torna essencial.
Tratamentos, medicação e terapias são partes fundamentais desse suporte que precisam para existir de uma forma menos dolorosa entre os neurotípicos. Contudo, o suporte vai além disso; ele engloba família, amigos, colegas de trabalho e a sociedade como um todo.
É crucial compreender que não existe “sair do espectro”. Chegaram onde podíam chegar, funcionam de uma maneira única, que não é nem melhor nem pior que a forma neurotípica, mas sim diferente e digna de respeito.
É imperativo que a sociedade compreenda que não irão “melhorar” ainda mais. Mesmo com tratamentos, terapias e medicações, já são nível 1 de suporte, e não há um nível zero. Devemos aceitar e celebrar essa diversidade.
Dra. Valéria Gandolfi Geraldo
Pediatria - Neurologia Pediátrica
CRM-SP: 105.691 / RQE: 26.501-1